Por Rodrigo dos Reis*
“ Quando os nazistas levaram os comunistas, eu me calei; afinal de contas, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os social-democratas, eu fiquei calado; eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu fiquei em silêncio; eu não era sindicalista.
Quando eles vieram por mim, não havia mais ninguém para protestar. ”
O título do texto é uma frase de valor sociopolítico inquestionável, cuja autoria é atribuída a Martin Niemöller, o qual é considerado um importante líder religioso da Alemanha e que se tornou opositor ferrenho do regime nazista de Adolf Hitler. Pois bem.
A semana se encerrou com acontecimentos que certamente exigem repúdio por parte daqueles que possuem apreço pela democracia e pelos valores mais caros à humanidade.
Não se pode se descuidar do fato que vivenciamos no Brasil mais de 20 anos de Estado de Exceção, o qual aboliu através da força e do autoritarismo, os principais direitos e garantias fundamentais de nosso povo, sem falar na prática da tortura, que levou à morte centenas e centenas de pessoas que tombaram lutando pela liberdade das gerações futuras.
Hoje, passados mais de 30 anos, o espírito nefasto desse triste período da história de nosso País volta a assombrar os brasileiros e brasileiras.
Exemplo disso são os ataques misóginos direcionados à Ministra Carmen Lúcia, cujo autor, em prisão domiciliar, achou-se autorizado a disparar tiros de fuzil e granadas nas forças de segurança pública, conduta esta que repousa e encontra legitimidade nas aberrações proferidas pelo Presidente da República, o qual também ataca o processo eleitoral democrático, a imprensa, seus opositores políticos e o Poder Judiciário, sem qualquer receio e punição.
Se tal fato ocorresse nas periferias, já se sabe bem qual seria o tratamento dado pelo Estado brasileiro, o qual é reacionário, patrimonialista, violento e socialmente desigual por natureza, cuja razão de ser encontra abrigo em seu processo de formação socioterritorial.
Diga o povo negro das favelas e veja-se o lamentável episódio de racismo do qual foi vítima um dos maiores artistas e compositores do Brasil.
Igualmente lamentável é a violência física e política de que foi vítima um Vereador e Deputado eleito, agredido por outro vereador que já foi cassado pela Justiça Eleitoral, recentemente indiciado por violência política de gênero e que inclusive já foi alvo de investigação disciplinar por corrupção e formação de quadrilha.
Por ocasião dos fatos, conscientemente organizado com seus correligionários, o parlamentar em questão distribuía à luz do dia, no Centro da Capital, a metros do batalhão da Polícia Militar, material sabidamente criminoso e que já havia sido retirado das ruas pela própria Justiça Eleitoral, tanto é assim que o panfleto em questão foi novamente censurado horas depois pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Tanto não bastasse, mesmo depois de ter sido conduzido ao Palácio da Polícia, o vereador de forma neurastênica e destemida intimidava e agredia verbalmente militantes e sindicalistas, inclusive mulheres, na presença dos agentes da polícia judiciária e militar, a revelar seu verdadeiro (des) propósito político.
Com efeito, a violência - em todas as suas formas de manifestação – infelizmente impera no País e há uma paralisia letárgica que repousa na consciência moral coletiva e das autoridades, muitas das quais quedam silentes diante de tamanho absurdo que malfere de morte o Estado Democrático de Direito e às Instituições, colocando o País em situação constrangedora no cenário político internacional.
Este ciclo vai e precisa acabar no final de semana que se avizinha e a covardia ficará registrada para sempre na história e na testa daqueles que traíram a democracia e não se levantaram contra o autoritarismo.
O rompimento deste ciclo a nível nacional se traduz na candidatura de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República, cujo programa de governo resta comprometido com o bem comum, com a inclusão e superação das desigualdades sociais, com a valorização do serviço público, com o crescimento econômico, urbano e industrial ambientalmente sustentáveis, com a educação, com a saúde, com os movimentos sociais, com o povo negro, indígena e LGBTQI+, com as Instituições da República e com o Estado Democrático de Direito.
Já aos gaúchos, gaúchas e gaúchxs outro caminho não resta senão o voto crítico em Eduardo Leite, isso porque Onyx Lorenzoni representa o ódio, o obscurantismo, o retrocesso, o conservadorismo e o que há de mais autoritário e trágico na história política gaúcha.
O Rio Grande do Sul, exemplo de resistência e de luta pela democracia, não precisa e não vai retroceder!
* Bacharel em Geografia pela UFRGS, acadêmico de Ciências Jurídicas e Sociais pela mesma Universidade, e atualmente ocupa o cargo de Oficial do Ministério Público na Promotoria de Justiça de Portão.