O Comitê Interno para Acompanhamento da Evolução da Pandemia por Coronavírus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) divulgou uma nota de contrariedade às medidas de relaxamento das medidas de distanciamento social permitidas pelo Governo do Estado na semana passada. A universidade realizou uma pesquisa em parceria com o governo estadual que revelou uma expressiva subnotificação da doença: para cada caso notificado nas cidades estudadas, existem em torno de 4 casos não notificados. A equipe científica do Comitê desenvolveu um aplicativo para projetar a demanda por leitos de enfermaria e UTI durante a pandemia de coronavírus e conclui que Pelotas (cidade onde está sediada a universidade) e o estado do Rio Grande do Sul estão em fase inicial da pandemia, com tendência de crescimento nas próximas semanas.
Na nota, o Comitê salienta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou seis condições necessárias para o relaxamento das medidas de distanciamento social: (a) transmissão do vírus controlada; (b) sistema de saúde com capacidade de detectar, testar, isolar e tratar todas as pessoas com COVID-19 e seus contatos mais próximos; (c) controle de surtos em locais especiais, como instalações hospitalares; (d) medidas preventivas de controle em ambientes de trabalho, escolas e outros lugares onde as pessoas precisam ir; (e) manejo adequado de possíveis novos casos importados; (f) comunidade informada e engajada com as medidas de higiene e as novas normas. Na avaliação da equipe de cientistas da UFPel, “esses requisitos não estão cumulativamente preenchidos nem na esfera municipal, nem na estadual e nem na federal”.
Considerando esse cenário, o Comitê de acompanhamento da pandemia expressou sua preocupação com a reabertura do comércio em diversas cidades do estado do Rio Grande do Sul, no dia 16 de abril, “sem observância aos seis critérios preconizados pela Organização Mundial da Saúde”. A nota também manifesta contrariedade ao relaxamento das medidas vigentes de distanciamento social, “pelo menos até que: (a) a disponibilidade de leitos de enfermaria e UTI seja compatível com a demanda estimada e; (b) os resultados da segunda fase da pesquisa coordenada pela UFPel, com previsão de divulgação ainda no mês de abril, forneçam estimativas da velocidade de expansão da infecção”.