Hoje amanhecemos com uma notícia que nenhum de nós estava preparado para receber. A partida da Laura Emília Nunes - a nossa Laurita - nos atravessou de um jeito difícil de descrever. Um silêncio pesado caiu sobre todos nós. É duro falar dela no passado. É duro aceitar que essa força da natureza, tão viva, tão intensa, tão presente, não esteja mais conosco.
A Laura foi - e sempre será - uma guerreira. Uma mulher que viveu a vida, o trabalho e a luta por justiça com coragem diária.
Nós, assistentes de procuradoria, conhecemos bem o peso das injustiças que enfrentamos: um cargo extinto, desvio de função, diferenças remuneratórias injustificáveis em relação a colegas que faziam o mesmo trabalho. A ironia de viver uma vida profissional marcada pela injustiça exatamente dentro de uma instituição que existe para promover a Justiça nunca nos passou despercebida.
Mas, em meio a tudo isso, a Laura tornou-se muito mais que uma colega: ela se tornou voz, escudo e trincheira. Era destemida. Dizia o que precisava ser dito. Enfrentava hierarquias, barreiras e desconfortos para defender o que era certo - mesmo que isso tivesse preço. Não fugia da briga. Comprava o “B.O”. dos outros como se fosse seu. Ela era intelectualmente brilhante, propositiva, firme, briosa. E, paradoxalmente, com toda essa força, carregava também uma ternura que só quem convivia sabia reconhecer.
A Laura tinha dentro dela um lado maternal enorme. Mãe coruja dos seus dois guris - dos quais ela falava com orgulho radiante - e também mãe de todos nós. Mãe que acolhe, que dá colo, que aconselha, que protege. E mãe que cobra, corrige, puxa a orelha quando necessário. Era esse equilíbrio raro que fazia dela um porto seguro para tantos.
Sim, ela foi muitas vezes incompreendida. Seu jeito direto, sua coragem de se expor, sua firmeza em defender aquilo em que acreditava - tudo isso, não raramente, gerava rótulos injustos: intransigente, agressiva, difícil. Mas quem conhecia a Laura de verdade sabe: por trás daquela força havia uma mulher profundamente ética, sensível, leal e comprometida com o bem coletivo. Muitos de nós a tínhamos como suporte, como esteio, como referência nas horas difíceis.
Nossa trajetória profissional avançou muito graças ao destemor dela. Foi a Laura que, com coragem que poucos teriam, subiu à tribuna do CNMP para defender a nossa causa, o reconhecimento e a dignidade do nosso trabalho. Essa imagem permanece como símbolo do que ela foi: alguém que não se omitiu, que não se curvou, que não se calou.
E a luta continua. Mas agora sem aquela que, tantas vezes, foi nossa líder natural.
A ironia dolorosa da vida é que justamente aquilo que mais definia a Laura - seu coração imenso, valente e impetuoso - acabou sendo também o que a interrompeu tão cedo. A parada cardíaca levou embora uma mulher que ainda tinha um mundo por viver, uma família que era seu orgulho e sua razão, planos traçados ao lado do marido, sonhos compartilhados com os filhos, e a expectativa tão próxima de uma aposentadoria tranquila, num lugar onde finalmente poderia descansar após tanta luta. Eram muitos projetos. Muita vida pela frente.
Hoje, a dúvida que fica entre nós é simples e devastadora: Como seguir sem ela? Como ocupar o espaço da energia, da coragem e da presença que ela espalhava por onde passava?
A verdade é que a Laura fará falta. Muita falta. Falta no trabalho, falta na causa, falta no grupo, falta na vida de cada um que teve a sorte de conviver com ela.
Mas se tem algo que ela nos ensinou, é que ninguém parte por completo quando deixa raízes tão profundas nas pessoas. Levar a luta adiante - com dignidade, união, coragem e humanidade - talvez seja a forma mais bonita e sincera de honrar sua memória.
Laura, obrigada por tudo o que foste. Por tudo o que fizeste. Por tudo o que deixaste em nós.
Com saudade, respeito e eterna gratidão.
Assistentes de Procuradoria do MPRS.